Duas rodas
Um homem e um cão de bike pela América do Sul
Tarso Gonçalves Soares e Dudu darão a volta pelo continente nos próximos dois anos
Divulgação -
Dudu tem seis anos de idade e já percorreu quase todo o litoral da Região Sul do Brasil, no bagageiro da bicicleta ou sobre as quatro patas. Nos próximos dois anos, ele deverá se ocupar em uma nova viagem, que contemple toda a América do Sul. É difícil dizer ao certo o grau de expectativa ou a ânsia de Dudu em conhecer o continente a bordo do veículo de duas rodas. De pelo branco, com manchas pretas pelas costas, no entanto, é fácil ver a animação de Dudu quando Tarso se aproxima, enquanto aguarda comportado o dono, que conversa com a reportagem do Diário Popular.
Sobre Tarso Gonçalves Soares, 35 anos. Se formou em Educação Física pela UFPel em 2005. Desde os nove pratica natação. Começou a pedalar aos 12 e correr aos 17. Virou triatleta, disputou diversas competições da modalidade, inclusive na Austrália, onde morou. Retornou ao Brasil e fixou residência em Santa Catarina. Há um ano, decidiu vender tudo o que tinha e se presentear com dez anos de férias de tudo. Inspirado nos filmes Minimalism e Into The Wild, largou a vida "boa" que tinha, por uma mais simples. A ideia é dar uma volta ao mundo de bicicleta nos próximos nove anos.
Dudu surgiu na vida de Tarso em 2013. Era um filhote abandonado em uma praça de Itajaí. Perdido, apareceu no local de trabalho de Tarso, que o recolheu para a casa, junto da mulher. "Pegamos para tentar achar um novo dono. Três dias depois apareceu alguém, mas aí era tarde", conta Tarso. Hoje separados, ele e a mulher dividem a guarda do cachorro. Dudu é um fiel escudero de Tarso. Juntos já disputaram maratonas. "Ele corre comigo, sempre no meu campo de visão. Quando tem alguém à frente, ele corre do lado do oponente como quem diz: é esse que tens que ultrapassar", brinca Tarso.
Quando chega ao Diário Popular para conversar com a reportagem, Tarso pede um momento. "Vou ali avisar o cachorro que vamos demorar um pouco". Nem 10 segundos de conversa e Dudu entende tudo. Senta sobre as patas e o rabo, à espera. Cerca de meia-hora depois, o cachorro segue na mesma posição. "Vamos ali conhecer o Dudu", diz Tarso. É só o dono se aproximar que Dudu dá um salto, balança o rabo e faz festa. Ali a gente percebe que o impulso de Tarso de viajar todo o continente, de "exercer a liberdade plena", vai ser acompanhado pelo cachorro.
E é Dudu que dita o ritmo da viagem. Tarso já fez o trajeto Balneário Camboriú - Pelotas em sete dias de pedalada. Na última vinda, com Dudu, a viagem foi bem na manha: 13 dias de pedalada. "Quando eu vejo que ele tá cansado ou começa a chorar, a gente dá uma parada". Em subidas ou locais em que o trajeto exige menor velocidade, Dudu desce da bicicleta e acompanha Tarso correndo do lado.
Sem muito planejamento, pra não se "prender", Tarso e Dudu devem literalmente fazer a volta na América do Sul. Pelo litoral vão conhecer as dunas do nordeste brasileiro, passar pela Floresta Amazônica, cantear a Cordilheira dos Andes e desbravar a patagônia chilena e argentina, até desembocar de volta nas maiores praias do mundo, no sul do sul do Brasil.
Concluída a etapa, com tempo estimado de dois anos, o próximo passo de Tarso é a Europa. Pra chegar no velho continente, ele vai buscar caronas em navios ou veleiros, através de aplicativos e cartazes pelos portos. "Pra Europa o Dudu não vai. Além de dificuldades alfandegárias, minha ex-mulher não ia aguentar de saudades", lamenta Tarso.
Com a bicicleta e outros 52 itens, entre produtos de higiene, roupas e acessórios de sobrevivência, Tarso tem o teto de R$ 10,00 de gasto diário. A alimentação é a base de frutas, verduras e aveia. No primeiro ano das férias, ele conta que aceitava a ajuda das pessoas em estadia e alimentação.
"Foi um teste à solidariedade humana. Hoje em dia as pessoas continuam me procurando pra ajudar, mas eu agradeço e passo. Deixo para os que precisam. Viajar é a liberdade, é o livre arbítrio. Muitos amigos dizem que admiram minha ideia, mas dizem que não teriam a coragem pra fazer. No fim o que eu busco é isso: ter uma experiência simples, com o mínimo possível".
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